Em Floripa, surfando a onda do quantified baby

Monitoro as atividades do meu filho e isso melhora a saúde dele.

Raphael Dias
Coletivo UX

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Em 2003 tive o privilégio de trabalhar na Alure, uma das primeiras empresas dedicadas a user experience design do Brasil. Fundada por Claudia Obata, pioneira na comunidade UX brasileira, a Alure foi um divisor de águas na minha trajetória profissional como user interface designer. Estudante do curso de Publicidade e Propaganda, eu sonhava em trabalhar numa agência, mas na época do Power Macintosh (G5) uma agência não teria me ensinado os princípios do Humam Centered Design. Me lembro que o tagline da Alure era Rich humam experience e lá isso era levado a sério. A oportunidade de trabalhar com publicidade veio depois e também foi essencial para eu aprender os fundamentos do visual design.

Aprender a disciplina de UX tão cedo permitiu que meu processo criativo tivesse sempre o jornada do usuário em foco.

O service design deve se basear primeiro na análise da jornada do usuário.

Source: Instagram @soenxen

No início do ano, durante uma Sexta-Feira Santa aqui na Nesta resolvemos — após o chá de bebê de uma amiga — criar um serviço para gerenciar o estoque de fraldas de um bebê. O recrutamento de pais de lactentes e recém nascidos superou em indisponibilidade o de médicos. Isto levantou a pista que nos levou a estudar o ambiente e o contexto deste público.

Mariloo

Em agosto deste ano meu filho nasceu e senti na pele o dia a dia dos pais de um recém nascido. Prematuro, Lucas tem demandado cuidados especiais. Por exemplo, no primeiro mês a médica recomendou mamadas de duas em duas horas mesmo de madrugada. Minha esposa foi a exaustão e chegou o momento que perdeu a noção dos intervalos. Fui procurar um app simples para fazer o controle das mamadas, não encontrei nada que funcionasse. Buscando por baby feeding nas lojas Apple e Play Store as soluções que encontrei me levam a imaginar que nas reuniões de criação não foram respondidas as questões:

  • Quem é o usuário;
  • Onde ele está;
  • O que está fazendo;
  • Como ajuda-lo.

Este é o questionário básico para concluir se sua ideia realmente importa.

Dado a falta de um aplicativo bom, resolvi programar o Do Button do IFTTT. A cada mamada com 2 taps e um swipe minha esposa registrava a mamada. A cada ativação uma linha era adicionada numa planilha do Google Drive com dia, hora e localização. Quando ela tinha dúvida do intervalo checava o horário da última mamada na planilha.

O Do Button fica disponível direto na lock screen ou o applet aparece como um app na home screen.

O IFTTT automatiza ações simples como incluir um documento no Google Drive com informações da sua localização, naquele dia, data e hora por exemplo.

If This Than That

Para acompanhar o intervalo das mamadas e as trocas de fralda tem sido muito útil. No caso das trocas de fralda, ao acionar o botão o applet cria um arquivo .doc com dia, data, hora e localização. Optei pelo .doc porque consigo fazer anotações, afinal o xixi e o coco do bebe (cor, composição e frequência) refletem o quão saudável ele está — nunca pensei que fosse mostrar a foto do coco do meu filho para pediatra. Nossa pediatra achou legal, porque a cada consulta temos um pequeno prontuário do Lucas baseado nos dados do último mês. Foi este controle que nos deu o alerta para o fato do Lucas não ter ganho peso durante um mês e a médica rapidamente fez uma intervenção.

Lucas está com 2 meses e meio e até aqui aprendemos bastante.

Todo o registro tem um link com um mapa da localização.

Agora estou em Florianópolis para Interaction South America e minha esposa e filho vieram para descansar. A mudança do clima, ambiente, alimentação da minha esposa e também a qualidade da água que usamos no suplemento podem causar mudanças no ritmo do bebê. Neste caso a geolocalização é importante, porque posso comparar os dados e ver como esta troca de ambiente afetou meu filho.

Lucas e o mar

Sobre a solução do IFTTT o problema principal é depender do celular. Além da bateria, o celular nem sempre está perto e se o botão não for acionado na hora, depois você esquece. Levei isso para Nesta resolvemos dedicar uma sexta-feira para falarmos de IoT e programarmos um botão “de verdade” que fique próximo ao trocador e a poltrona de amamentação. Aí o celular entra novamente na jornada, desta vez como uma solução quando os pais estiverem fora de casa.

É interessante ver como um protótipo de serviço produzido em poucas horas, vem sendo usado exaustivamente e deixando um rastro de informações e dados que nos levaram a uma solução 2.0 que envolve desenvolvimento de hardware. Esta experiência tem mostrado que entender a jornada do usuário é o primeiro passo do service design. E na era da IoT é preciso cuidado para não sair oferecendo um monte de traquitanas que parecem inovadoras, mas não fazem sentido no contexto do usuário e acabam indo praquela gaveta de gadgets que chamam a atenção, mas logo vão virar lixo eletrônico.

Encerro este artigo de frente pro mar de Floripa na expectativa das reflexões que o ISA 2017 promete.

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