As mudanças no papel do designer — design baseado na comunidade

Jackson Júnior
Coletivo UX
Published in
4 min readJan 15, 2021

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Sabe uma coisa que ninguém ensina quando você está começando sua carreira em Design?

É que você não vai ter tempo.

Ensinam sobre o duplo diamante, onde o primeiro é o que tentamos entender quais são os problemas reais do usuário, e no segundo é onde tentamos descobrir que solução é possível para resolver o problema.

Tudo isso faz muito sentido. Dá até um "nó" na cabeça com a quantidade de metodologias que podemos usar, onde tudo aparenta ser maravilhoso durante os cursos e treinamentos. Realmente, a aplicação de cada etapa é fantástica, onde de fato, você tem tempo para isso. Afinal, você está estudando e aprendendo sobre as melhores práticas.

Mas no mundo real raramente é assim. Na maioria das vezes, não temos tempo para descobrir todos os problemas para depois propor uma solução.

Quando você trabalha para um cliente ou empresa, assim que você começa, basicamente o orçamento está apertado e o prazo é sempre para ontem. Isso porque nunca nos dão o tempo suficiente para fazer o trabalho da maneira que gostaríamos, e nunca temos o orçamento suficiente para realizarmos cada etapa que acreditamos de um bom processo de descoberta de produto.

Quando você passa a conhecer como os designers trabalham nas principais empresas de tecnologia, vai perceber que a maioria deles não vivem de processos perfeitos. Muitas das vezes, a primeira coisa que eles fazem é construir rapidamente alguma coisa.

Mas isso não deveria ser a última etapa do processo de descoberta de produto, depois de entendermos os problemas, as pessoas e tudo mais?

Bem, a resposta não é tão simples. Mas o que parece é que se você construir algo rápido e rapidamente colocar nas mãos das pessoas, você vai aprender muito de como elas interagem com ele. E essa é uma maneira de fazer as perguntas, dando às pessoas algo que você acabou de construir. Ao tentar fazer uso dele, elas mostrarão o que há de errado ou de bom. E você poderá recomeçar ou continuar a partir daí.

E isso é uma ótima investigação do interesse delas, seus desejos, suas necessidades e suas capacidades.

Mas então, o que muda no papel dos designers?

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A forma como o design tradicional é feito, os designers estudam o problema, descobrem o que alguém precisa, suas capacidades, testam protótipos, e dizem: "Pessoal, aqui está a solução para o problema que você nem sabia que tinha". A pergunta que fica é: será que assim estamos deixando as pessoas realmente satisfeitas e engajadas com as nossas soluções?

Não, as pessoas geralmente não ficam satisfeitas. Especialmente se estivermos falando de problemas que afetam uma comunidade, como transporte, habitação de baixo custo, acesso a alimentos, acesso a empregos, acesso a quase tudo que as pessoas se preocupam.

Não precisa ir muito longe, basta olhar para o nosso país. Irá perceber que muitos lugares ainda precisam de saneamento básico, água corrente, acesso a eletricidade, serviços de comunicação e especialmente de uma internet mais rápida. E se, você designer, olhar o que estão fazendo e dizer: “Pessoal, aqui está o seu problema e a solução é essa aqui”, quase sempre irá falhar.

Basicamente é um estranho entrando e dizendo o que você tem que fazer. Ninguém gosta disso.

Para resolver problemas de design em grande escala, Don Norman recomenda se envolver com a comunidade que possui esses problemas e aproveitar a criatividade e as experiências existentes.

Existem sete bilhões de pessoas no mundo, e boa parte delas são maravilhosamente criativas, e não há ninguém que entende melhor dos problemas do que elas mesmas. Elas os vivem. Sofrem com isso. Muitas já possuem solucões inteligentes guardadas na manga.

Então, ao invés de entramos numa comunidade e dizer o que precisam fazer para resolver seus problemas, podemos encontrar pessoas e profissionais criativos que estão dispostos a ajudar. Eles já estão avançados e imersos nos problemas, basta absorvemos o que eles pensam e entender quais soluções são possíveis de se realizar.

Não dizemos as pessoas o que fazer. Passamos a educar, ajudar, orientar, dar conselhos. A maioria das pessoas tendem a consertar mais os sintomas, e não os problemas subjacentes.

Assim, designers conseguem oferecer ajuda, fornecer conhecimento especializado, informações úteis, e talvez até o apoio político e governamental que é necessário para financiar tal atividade, não acha? o/

O designer passa a se tornar cada vez mais um educador e um facilitador. São papéis muito diferentes para o dia-a-dia de um designer, mas muito mais positivo na vida das pessoas.

E para nós designers, cada vez mais gratificante! :)

E você, o que você faz para melhorar a vida das pessoas através do design? Diga nos comentários ou me mande um e-mail no jack@jacksonjunior.com :)

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Product Designer @ OLX Brasil • UX specialist and Product Discovery enthusiast